sexta-feira, 6 de agosto de 2010

ONU e Equador criam fundo para proteger a Amazônia contra exploração de petróleo

Previsão é de que em 18 meses o valor chegue a US$ 100 milhões.
País está disposto a renunciar a 850 milhões de barris de óleo.

O Equador definiu nesta terça-feira (6) a criação de um fundo administrado pela Organização das Nações Unidas (ONU) para receber doações que compensem o país por uma futura suspensão da exploração de seu maior campo petrolífero, situado no coração da selva amazônica, para proteger os recursos naturais.
O fundo será administrado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), mas o Equador decidirá em quais projetos serão investidos os recursos doados. A previsão é de que nos primeiros 18 meses o valor chegue a US$ 100 milhões (cerca de R$ 174,8 milhões).
O governo equatoriano está disposto a renunciar a cerca de 850 milhões de barris de petróleo do campo de Ihspingo-Tambococha-Tiputini (ITT), a "joia da coroa" do petróleo do país, mas em troca espera a compensação de pelo menos metade dos US$ 7 bilhões (cerca de R$ 12,2 bilhões) que deixaria de receber.

O ITT fica no centro do Parque Nacional Yasuní, uma das reservas com maior biodiversidade do planeta, com cerca de 982 mil hectares. "A assinatura do instrumento financeiro é parte desse esforço permanente para nos aproximarmos da utopia de ter um planeta que respeite os direitos dos seres vivos", disse a ministra do Patrimônio, María Fernanda Espinosa, durante a cerimônia.

"A iniciativa Yasuní-ITT faz do Equador um país líder da conservação da biodiversidade, mitigação das mudanças climáticas e desenvolvimento social com justiça ambiental em nível mundial", acrescentou.
O campo ITT representa 20% das reservas petrolíferas do país, menor integrante da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep).Os recursos arrecadados serão destinados ao desenvolvimento de energias alternativas.
As autoridades garantiram que o país recebeu o apoio formal de Alemanha, Bélgica, União Europeia, Itália e Espanha. A Alemanha se comprometeu a entregar 50 milhões de euros (cerca de R$ 115,1 milhões) por ano.

Nas próximas semanas, representantes do governo equatoriano viajam por vários países, incluindo nações árabes, para obter aportes individuais e de empresas privadas.
O argumento do Equador para promover esse fundo é de que, ao deixar de explorar o campo ITT, o país evitará a emissão de 407 milhões de toneladas de carbono na atmosfera, quantidade equivalente às emissões de países como Brasil e França em um ano.
Em troca dos recursos, serão emitidos certificados de garantia em favor dos doadores, o que permitirá que os recursos lhe sejam devolvidos no caso de o Equador decidir explorar o campo. Se num determinado período o país não conseguir arrecadar os recursos, poderá explorar o ITT.
O Parque Yasuní foi declarado pela Unesco Reserva Mundial da Biosfera em 1989. Segundo estudos científicos, em apenas um hectare o parque abriga cerca de 655 espécies de árvores e arbustos, cerca de 590 espécies de aves e 80 tipos de morcegos, entre outras classes de flora e fauna.

Maioria das florestas tropicais deve perder espécies até 2100, diz pesquisa

Projeção estima efeito das mudanças climáticas e da ação humana.

Na Amazônia, 80% do bioma deve ser afetado, segundo os autores.

Estudo publicado na edição desta quinta-feira (5) da revista "Conservation Letters" aponta que até 2100, apenas entre 18% e 45% das plantas e animais da florestas tropicais úmidas do planeta permanecerão no seu estado atual. A maior parte desses ecossistemas está sujeita a perda de biodiversidade por causa das mudanças climáticas, da exploração madeireira e das alterações no uso do solo.
A pesquisa liderada por Greg Asner, da Carnegie Institution, nos EUA, combina novos dados climáticos e de exploração econômica dessas regiões. A ação humana direta, assim como as mudanças no clima, fazem com que a floresta tropical, a mais rica em biodiversidade, desapareça ou se adapte.
Com imagens de satélite e dados de alta resolução associados a 16 projeções climáticas globais, os autores criaram cenários de como diferentes tipos de espécies poderiam se realocar geograficamente até 2100.
O levantamento conclui que até 80% da Bacia Amazônica pode ter mudanças em sua biodiversidade. Para toda a América Central e do Sul, a projeção média é de dois terços. No caso da região do Congo, na África, entre 35% e 74% podem ser atingidos. Em todo o continente africano, cerca de 70% devem ter alteração na biodiversidade.
A Ásia e as ilhas do Pacifíco devem ser, dentre as regiões com florestas tropicais, as menos atingidas pelas mudanças climáticas. Ainda assim, devido à ação humana, entre 60% e 77% de suas florestas podem ter perda de biodiversidade até 2100. O propósito do estudo é apontar quais são os pontos mais sensíveis de floresta para orientar políticas de conservação.

Acessado em: 06 de agosto de 2010

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Consumo na China levou à matança de 280 mil tubarões no Brasil, diz ONG


A demanda por alimentos feitos a partir da barbatana de tubarão na Ásia está sendo apontada como a causa da matança ilegal de 280 mil animais na costa brasileira, nos cálculos de uma organização não-governamental com base em Porto Alegre.
O Instituto de Justiça Ambiental, que fez a estimativa a partir de autos de infração e apreensões do Ibama no Pará, entrou com uma ação na Justiça na qual demanda uma indenização bilionária de uma empresa de pesca por danos ambientais "irreversíveis e incontáveis" na costa paraense.
Os danos se referem à captura ilegal de 25 toneladas de barbatanas de tubarão e bexigas natatórias de animais não identificados, que a ONG acusa uma empresa de processar e revender ilegalmente. A mercadoria seria enviada provavelmente de portos no Rio Grande do Sul para o mercado asiático.
O instituto pede uma indenização de quase R$ 1,4 bilhão. No entanto, diz a ONG, o valor deverá subir à medida que forem apresentados pareceres técnicos sobre todos os ecossistemas afetados no decorrer do processo.

"Nunca ouvimos nada parecido. O que é assustador é que provém de apenas uma empresa. Imaginem então as quantidades que escapam da fiscalização do Ibama/PA", disse o diretor do IJA, Cristiano Pacheco.
"Quase não se fala na área costeira amazônica. Os brasileiros precisam saber que é a mais rica do país em biodiversidade marinha, banhada pela foz do Rio Amazonas."
Iguaria
As barbatanas de tubarão são consideradas uma iguaria na cozinha do leste asiático, e analistas dizem que o aumento da demanda, sobretudo da China, tem incentivado a extração dessa parte do animal para exportação ilegal.

O aumento do consumo do produto também atesta o crescimento do poder de compra dos consumidores chineses. Além disso, a barbatana de tubarão é usada em medicamentos.
Segundo o Instituo de Justiça Ambiental, os animais normalmente têm suas barbatanas retiradas para exportação ilegal e em seguida são jogados de volta ao mar.
"Essa é uma situação extremamente séria e representa apenas uma fração dos tubarões ilegalmente abatidos na costa do Nordeste brasileiro", disse Pacheco.
Dentre os animais abatidos, segundo a ONG, estão espécies marinhas em risco de extinção e vulnerabilidade, como o tubarão-grelha.
"Suprimir os tubarões dessa forma absurda e descontrolada colocará em colapso os ecossistemas marinhos na região, já que o tubarão é topo de cadeia, inventor da seleção natural nos oceanos e habitante deste planeta há mais de 400 milhões de anos."
Em maio, agentes do Ibama no Pará conduziram uma batida na empresa acusada e apreenderam cerca de 3,3 toneladas de barbatana de tubarão e mais 2 toneladas de bexiga natatória de outros peixes. A licença ambiental da empresa só permitia a comercialização de uma tonelada do produto por mês
Segundo declarou o Ibama na época, as barbatanas seriam vendidas a R$ 65 o quilo, enquanto as as bexigas natatórias custariam entre R$ 21 e R$ 81 o quilo.