
“As geleiras no Equador, Peru e Bolívia estão com os dias contados”, disse à IPS Juan Carlos Villalonga, diretor do capitulo argentino da organização não-governamental Greenpeace. O retrocesso também afeta os gelos da zona de Cuyo, a oeste da Argentina, e os mais vastos da Patagônia tanto do lado argentino quanto chileno, no sudoeste da América do Sul, acrescentou. Para o Greenpeace, este processo tem de servir para abrir os olhos dos líderes mundiais que se reunirão em dezembro em Copenhague, na XV Cúpula Mundial de Mudança Climática. Para a entidade, falta maior compromisso de redução de emissões de gás de efeito estufa, que aquecem a atmosfera.
Em conversa com a IPS, o especialista em geleiras Ricardo Villalba, do Instituto Argentino de Nivologia, Glaciologia e Ciências Ambientais (Ianigla) explicou que a retração das enormes massas de gelo “é um processo global que começou em 1850 e sofreu uma aceleração a partir de 1970%. Porém, alertou que esse processo “não é igual”. No Equador ou na Bolívia, onde as geleiras são menores, é fácil derreterem mais rapidamente”, explicou. Já na Argentina existe algum retrocesso “impressionante” e outros que se mantêm, dependendo da temperatura e das precipitações. No entanto, em média, Villalba disse que houve um retrocesso de 10% a 20% nas geleiras da Patagônia nos últimos 20 anos. “Se for mantida essa tendência, estes gelos desaparecerão entre 60 e 70 anos”, ressaltou.
Em um estudo intitulado “Mudança Climática: futuro negro para as geleiras”, o Greenpeace alertou em agosto sobre a aceleração do degelo na América do Sul. O informe recorda que o Painel Intergovernamental de Especialistas em mudança climática (IPCC) previu esta tendência em 2007. Segundo o IPCC, a média da temperatura global nos últimos cem anos aumentou 0,764 graus e a cobertura de gelos permanente e neve diminuiu em escala global. Também assinala que dos últimos 12 anos, 11 foram mais os mais quentes desde 1850 e que a previsão indica que o aumento continuará neste século.
“Um dos efeitos esperados da mudança climática é o desaparecimento maciço de gelos permanentes da superfície da Terra, tanto em calotas polares quanto nos diversos corpos de gelo sobre os continentes”, destaca o Greenpeace. Este fenômeno terá severas consequências, acrescenta. Em primeiro lugar, provocará o aumento do nível do mar e seus efeitos em forçadas migrações que provocará aumento da mudança climática devido à radiação solar que a superfície da terra absorverá.
Mas, acima de tudo, o derretimento das geleiras implica a perda de imensas reservas de água doce para consumo humano, e também para as bacias hidrográficas que contribuem para a geração de energia hidrelétrica. Estas perdas afetarão particularmente a região andina sul-americana. “Na América do sul existe uma variedade surpreendente de geleiras ao longo da cordilheira dos Andes e as mais extensas estão na Patagônia”, segundo o Greenpeace. O informe diz que no Equador “é iminente seu desaparecimento”, e destaca a importância nesse país ao afirmar que 450% da água utilizada em Quito provêm de degelo das geleiras.
O estudo confirma o que já foi apontado em 2008 pelo Banco Mundial em sua pesquisa intitulada “O impacto da mudança climática na América Latina”. De acordo com o Banco, “70% das geleiras tropicais do mundo estão nas elevadas montanhas da cordilheira dos Andes, no Equador, Peru e na Bolívia”. A instituição acrescenta que só no Peru, onde milhões de pessoas se abastecem de água de degelo, foram perdidos 22% da superfície das geleiras em pouco mais de 30 anos. Quelcaya perdeu 20% de seu volume desde 1963. “Retrocedeu mais rápido no último século do que nos 500 anos anteriores”, afirma o Greenpeace. “O retrocesso aumentou 30 metros ao ano na década de 90″, ressalta, em referência a essa geleira que abaste de água a cidade de Lima.
Na Argentina, na região de Cuyo, com vastas geleiras, “a situação é muito crítica”. A água é um recurso muito escasso ali. Na província de Mendoza, apenas 3% do território é oásis, o restante é deserto e depende fortemente da provisão de água de degelo. Na Patagônia, há cerca de 20 mil quilômetros quadrados de geleiras entre Argentina e Chile. Ficam nos dois países os Campos de Gelo Sul, com 13 mil quilômetros quadrados; os Campos de Gelo Norte no Chile, com 4.200 quilômetros quadrados, e a cordilheira Darwin, também compartilhada pelas duas nações, com 2.500 quilômetros quadrados.
“Muitas das maiores geleiras nestes campos experimentam uma severa redução e um sério retrocesso de vários quilômetros”, com exceção de dois deles, o Perito Moreno na Argentina e o Pio XI no Chile, que se mantêm estáveis ou mesmo avançam, informa o Greenpeace. Para Villalba, a subsistência destes frágeis ecossistemas se relaciona com o balanço que conseguem entre a neve que cai e a temperatura que deve ser mantida baixa para que não derretam. Nesse sentido, o especialista disse que o retrocesso recente está relacionado principalmente com a elevação da temperatura.
A geleira Upsala, por exemplo, está em processo de retração impressionante”, disse o especialista. Este campo de gelo desemboca no Lago Argentino, na província de Santa Cruz, e esse contato com a água o expõe a uma erosão mais acelerada. Algo semelhante ocorre com o Viedma na mesma província. “Enquanto prosseguir a emissão de gases de efeito estufa, este processo se intensificará, por isso exortamos no sentido de se reduzir o uso de combustíveis fósseis e pensar em energias alternativas”, ressaltou.
Bibliografia: Mercado Ético Terra <http://mercadoetico.terra.com.br >
Acessado em: 24/05/2010
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